SUPERVISÃO




CONSELHO DE CLASSE: EXCLUSÃO OU INCLUSÃO?

Angélica de Oliveira Furtado[1]


O conselho de classe é uma reunião coordenada pela equipe pedagógica, em que participam o diretor, o orientador educacional, o supervisor escolar, os professores e os representantes de alunos. Sua periodicidade pode ser mensal, bimestral, semestral ou anual, dependendo do regimento escolar e do projeto político-pedagógico da escola. Apesar de as reuniões do conselho de classe serem previstas no calendário escolar, elas podem acontecer sempre que for necessário.
O foco central das discussões desse encontro é a questão da avaliação da aprendizagem, aspecto esse que define também sua intencionalidade. Se a escola trabalha na perspectiva da avaliação classificatória, o conselho de classe tem por objetivo simplesmente a socialização de notas ou conceitos, de reclamações dos alunos e a legitimação do fracasso escolar (MATTOS; ALMEIDA, 2001).
Outro problema que pode acontecer, vinculado a essa concepção de avaliação, é a hierarquização das disciplinas do currículo escolar, atribuindo-se mais importância àquelas consideradas historicamente como mais importantes e, por isso, mais rigorosas. Moreira e Candau (2007, p. 25) asseveram que

a “hierarquia” que se encontra no currículo, com base na qual se valorizam diferentemente os conhecimentos escolares e se “justifica” a prioridade concedida à matemática em detrimento da língua estrangeira ou da geografia, deriva, certamente, de relações de poder. Nessa hierarquia, se supervalorizam as chamadas disciplinas científicas, secundarizando-se os saberes referentes às artes e ao corpo. Nessa hierarquia, separa-se a razão da emoção, a teoria da prática, o conhecimento da cultura. Nessa hierarquia, legitimam-se saberes socialmente reconhecidos e estigmatizam-se saberes populares. Nessa hierarquia, silenciam-se as vozes de muitos indivíduos e grupos sociais e classificam-se seus saberes como indignos de entrarem na sala de aula e de serem ensinados e aprendidos. Nessa hierarquia, reforçam-se relações de poder favoráveis à manutenção das desigualdades e das diferenças que caracterizam nossa estrutura social.

Com relação a essas abordagens, vemo-nos novamente diante das opções em relação ao tipo de educação que queremos concretizar. As ações que realizamos podem reforçar a exclusão e a discriminação que o aluno vive na sociedade ou podem incluí-lo, se desenvolvermos uma prática educativa reflexiva, crítica e democrática. Nesse sentido, é importante o papel do coordenador pedagógico, pois, ao assumir a prática constante da análise sobre o cotidiano da escola, pode problematizar a visão que o grupo tem também sobre o conselho de classe. É importante que haja coerência entre os documentos da escola, sua prática pedagógica e avaliativa e as discussões desse encontro.
Assim, se a opção da escola é pela prática da avaliação formativa, as discussões têm outro foco: a melhoria do processo pedagógico para que o aluno realmente aprenda. Nesse sentido,

o conselho de classe [...] deve ser convocado periodicamente, visto como momento de interação entre professores, planejamento, estudo e decisões acerca de como trabalhar com as dificuldades e as possibilidades apresentadas pelos estudantes. O conselho não deve mais ser entendido como momento de fechamento de notas e decisões acerca da aprovação ou reprovação de alunos. É também um espaço privilegiado para o resgate da dimensão coletiva do trabalho docente. O conselho existe para que as decisões sejam compartilhadas (FERNANDES; FREITAS, 2007, p. 37).

Compreendido nessa perspectiva, esse é o momento ideal para a auto-avaliação e a reflexão crítica sobre os processos pedagógicos nos seus vários sentidos. Professores e alunos podem buscar um melhor relacionamento entre o que aprenderam e o que devem mudar para melhorar a aprendizagem, verificar onde estão errando e o que devem fazer para melhorar sua prática. É, também, o momento para a troca de experiências, no qual todos podem colocar para o grupo suas dificuldades e ansiedades. O coordenador pedagógico estará atento para que todos tenham voz e vez de expressão das suas ideias no decorrer do encontro. Portanto, ao agir nessa perspectiva, o coordenador pedagógico torna ainda mais coerente suas ações, pois assume realmente uma prática crítica, reflexiva, dialógica e democrática nas várias atribuições que compõem a complexidade do seu fazer pedagógico junto à comunidade escolar, em especial com os professores.

REFERÊNCIAS

FERNANDES, Cláudia de Oliveira, FREITAS, Luis Carlos de. Indagações sobre currículo: currículo e avaliação. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2007. Disponível em: . Acesso em: 23 fev. 2013.
MATTOS, Carmem Lúcia Guimarães; ALMEIDA, Sandra Maciel de. O conselho de classe como articulador de uma orquestração marginalizadora do aluno. Educação On-Line. 11 nov. 2001. Disponível em: . Acesso em: 25 fev. 2013.
MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa; CANDAU, Vera Maria. Indagações sobre currículo: currículo, conhecimento e cultura. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica,2007.Disponível em: . Acesso em: 23 fev. 2013.



[1] Orientadora Educacional da Escola Estadual Raimunda Virgolino. Professora da Universidade Estadual do Amapá - UEAP das disciplinas Teoria do Currículo; Estágio Supervisionado e Legislação Educacional e Coordenadora do Curso de Pedagogia da Faculdade Educacional da Lapa – FAEL.



O PAPEL DO PEDAGOGO NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

Angélica de Oliveira Furtado[1]

O avanço da Sociedade do Conhecimento desafia as instituições escolares, e também as não-escolares, a oferecer aos sujeitos o acesso a espaços diversificados para a realização de tarefas acadêmicas. Nesse processo, é preciso possibilitar meios que levem a um bem comum.
Com a revolução tecnológica, o pedagogo precisa ter clareza de que o planeta é um bem que interessa a todos e, por consequência, os alunos deverão ter uma visão holística e sistêmica de sua atuação no Universo. A humanidade, a partir da proposição do paradigma emergente, avança para a busca da paz, da solidariedade, da justiça social, da superação da violência. Nesse contexto, a escola tem papel essencial na busca da transformação da sociedade atual para uma sociedade mais justa, igualitária, fraterna, que permita o renascimento das qualidades morais e espirituais, como a honestidade, a veracidade e a cidadania responsável.
         O advento da Sociedade do Conhecimento caracteriza-se pela transitoriedade das atividades profissionais, desencadeadas pelo desenvolvimento acelerado das transformações sociais. Segundo Levy (2004), a “Era das Relações”, dos processos, dos inter-relacionamentos, demanda uma visão integrada, interconectada e envolve a formação ética para a cidadania, os avanços tecnológicos, o novo modelo de produção e desenvolvimento, a qualificação profissional crítica e a educação para a transformação social.
       Em função desse movimento, os docentes, pela sua competência profissional, têm sido desafiados a buscar inovações na ação pedagógica, no sentido de propor metodologias que levem a produção do conhecimento para superar a mera reprodução e para formar profissionais que venham a atuar como cidadãos críticos, criativos e empreendedores na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, para a preparação de profissionais que atuarão em um novo mercado de trabalho e, especialmente, para uma sociedade em constante movimento.
       A fim de superar a fragmentação e a reprodução do conhecimento, o professor precisa ser desafiado a ter condições de levar adiante a tarefa de ensinar, utilizando metodologias condizentes com as exigências da Sociedade do Conhecimento (MIRANDA, 1997).
           A prática docente, com visão inovadora, precisa contemplar o espírito crítico frente à realidade circundante e preparar o profissional ético e o cidadão consciente, que tem como missão maior a busca da transformação da sociedade.
A mudança de paradigma implica em um novo perfil do professor, que apresenta um papel fundamental no processo de ensino, deixando de ser autoritário e estabelecendo um relacionamento harmônico com os pais e os estudantes. Esse novo professor tem a pesquisa como atitude cotidiana, propõe um modo próprio de teorizar e praticar a pesquisa, é um líder, um facilitador do processo, é criativo, induz o aluno a criar também, formula uma proposta pedagógica, é reflexivo, autocrítico, inovador e tem como foco de sua profissão a formação da competência do aluno, através da qualidade formal e da qualidade política.
          A formação de professores, nesse novo paradigma, exige um novo padrão de conhecimento: mais operativo, mais interativo, mais pragmático, mais global e mais valorativo. Surgindo essa nova concepção de conhecimento, altera-se a relação com as pessoas e a maneira de utilizá-lo. O conhecimento deve acontecer mediante a ação “saber fazer”, “saber usar” e “saber comunicar”, ou seja, e a operacionalização, a funcionalidade e a informação a serviço do conhecimento.
            Parafraseando Ferreira e Aguiar (2000), hoje, o pedagogo precisa da competência e do perfil de um profissional capaz de refletir, debater, criticar e propor novos olhares sobre a política e a educação, considerando a conjuntura mundial marcada pela diminuição da presença do Estado na promoção das políticas sociais, por meio do avanço das forças de mercado e pela crescente exclusão dos contingentes populacionais.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, N. S. C.; AGUIAR, M. A. S. (Orgs.). Gestão da Educação: impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2000.
LEVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. São Paulo: Editora 34, 2004.
MIRANDA, M. G. de. Novo paradigma de conhecimento e políticas educacionais na America Latina. Cadernos de Pesquisa, n. 100, p. 37-48, mar.1997.






[1] Orientadora Educacional da Escola Estadual Raimunda Virgolino. Professora da Universidade Estadual do Amapá - UEAP das disciplinas Teoria do Currículo; Estágio Supervisionado e Legislação Educacional e Coordenadora do Curso de Pedagogia da Faculdade Educacional da Lapa – FAEL.

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